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Exu & Oxalufã — Itans da Encruzilhada e da Criação

 
Do movimento de Exu à criação de Oxalufã: itans viram arte no Ate Ilê Ofun.

No Ate Ilê Ofun, a obra nasce de duas forças: a história sagrada e o toque da mão. Estudamos os itans, escutamos os materiais e só então decidimos o caminho. Exu abre passagens: início, resposta, passo firme. Oxalufã dá forma e sossego: branco atento, calma que organiza.

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Da união dos dois, vem a matéria: cabaçacobrebúziosisal cru e madeira nobre. Não são enfeites; são sentido. A instalação foi pensada em eixo: os Adês, no centro, falam como duas vozes que se olham; o Opaxorô (esq.) e o Ogó (dir.) erguem o corpo da obra. A cabaça aparece em base, forma, fragmento e encaixe — contando, por etapas, a mesma história.

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Visão geral — mesa central com Adês; suportes laterais elevando Opaxorô (esq.) e Ogó (dir.). Eixo claro de leitura.
 

1. Fundamento do Projeto

O conceito nasce do cruzamento de dois itans: Exu ganha o poder sobre as encruzilhadas — ninguém passa sem saudá-lo — e Obatalá molda o homem a partir da terra. A obra assume esse diálogo como estrutura: movimento e forma, resposta e serenidade, caminho e criação.

“Exu recebeu o poder sobre as encruzilhadas; nenhum orixá caminha sem antes saudá-lo.”
“Obatalá moldou o homem a partir da terra; do branco puro fez nascer a forma.”

A cabaça foi eleita matriz por unir origem e arquitetura: pode sustentar, pode se fragmentar e pode encaixar. O cobre, o búzio, a madeira e o sisal não foram escolhidos pelo efeito, mas pelo que dizem: passagem e vigilância, destino e escuta, permanência e ancestralidade, ligação com a terra.

 

2. Estrutura de Exposição

  • Mesa central (≈1,50 m) para os Adês — centro de gravidade simbólico.
  • Suportes laterais (≈2,20 m) em ferro de construção e madeira nobre — verticalidade, firmeza e leitura em eixo.
  • Madeira nobre como fundamento — dignidade da matéria, não ornamento superficial.

O desenho espacial privilegia respiros superiores, evitando peso excessivo no centro. Assim, o olhar percorre do cobre (Exu) ao branco (Oxalufã), retorna aos Adês e só então repousa nos detalhes do Opaxorô e Ogó.

   

Planta e alturas — leitura vertical, pesos laterais, respiro superior.
 

3. Opaxorô de Oxalufã

O Opaxorô assume curvatura de reverência e sabedoria. Dois cascos de igbìn dão sensação de marcha; dois cabos unidos falam do par Oxalá–Odudua. O chocalho ritual (16 cascos) traz a vibração de Oxaguiã e dá ritmo à leitura. Sustentações em cabaça reforçam estrutura e linguagem. Ao centro, uma cabaça palhada propõe a ideia de “Adê dentro do Adê”.

As conchas usadas não são aleatórias: a seleção considerou textura, brilho contido, variação de borda e adequação cromática ao Ofun. O resultado é um cajado que sustenta presença sem esmagar a visão — firme, mas com leveza de rito.

     

Opaxorô — ritmo de igbìn, reverência e altura controlada.
 

4. Ogó de Exu

Ogó de procedência africana, com madeira clareada para harmonia geral. Foi dividido em duas artes para ajuste de massa e repousa em cinco cabaças com seleção de diâmetros. A “fatia” de cobra conversa com o cobre do Adê de Exu, criando linha de energia que liga base e coroa. O sisal aparece apenas neutro — quizila de Oxalá preservada.

 

     

 

Ogó — presença contida, base estável, diálogo com o cobre.
 

5. Adê de Oxalufã

O Adê de Oxalufã foi pensado para ser múltiplo e disciplinado. O círculo central representa a Terra, partitura da criação. Fragmentos de cabaça foram curados, cepados e encaixados como mosaico controlado, evocando a embriaguez de Oxalá (queda, perda da missão, recomposição). As conchas — de duas espécies — foram distribuídas por leitura de brilho, curvatura e volume para não competir com o Ofun.

     

Adê de Oxalufã — abundância disciplinada; criação e falha em equilíbrio.
 

6. Adê de Exu

Complementar ao de Oxalufã: base em cabaça inteira (integridade), cobre cortado geometricamente (passagem, vigilância), sete búzios brancos (fundamento do Odu). A estética é de simplicidade sóbria: sem excesso de massa, com clareza de contorno e pontos de brilho contidos no cobre.

     

Adê de Exu — cobre geométrico, prontidão, resposta e caminho.
 

7. O Processo dos Croquis — Do Traço ao Fundamento

7.1 Primeiro Traço

O croqui nasce como registro do itan: linhas rápidas, marcação de eixo e massas aproximadas de cabaça, cobre e madeira. É a etapa de descoberta, em que a obra conversa com a mão e o papel revela possibilidades de ritmo e proporção.

 

7.2 Limpeza e Estrutura

O traço é consolidado: contorno, respiro, ângulos e encaixes. A cabaça se firma como matriz; o cobre encontra a sua diagonal; o búzio define posição para leitura frontal. Ajustes finos testam equilíbrio, peso visual e linhas de fuga.

   

7.3 Finalização

O croqui final já apresenta a obra com precisão: hierarquia, volumes, respiros e luz. É o espelho gráfico da escultura — fundamento em forma — pronto para orientar a etapa material.

       

 

8. Síntese e Valor

Este conjunto não busca o efeito fácil; ele assume a responsabilidade de ser fundamento tornado forma. A escolha de cada material carrega uma oração: cabaça (vida/ventre/origem), cobre (passagem/vigilância), búzio (destino/escuta), sisal cru (terra/neutralidade), madeira nobre (permanência/ancestralidade). Ao acolher esta obra, você passa a conviver com um eixo simbólico que respeita rito, tempo e memória — e que sustenta presença silenciosa no cotidiano.

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