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Exu & Oxalufã — Itans da Encruzilhada e da Criação

 
Do princípio do movimento (Exu) à forma primordial (Oxalá): itans traduzidos em matéria, eixo e permanência.

Na origem da existência, dois fundamentos sustentam o equilíbrio entre forma e movimento: Exu, guardião das passagens e senhor da comunicação; e Oxalá, o artífice primordial, escultor dos corpos e portador do branco absoluto. Seus itans organizam a disciplina do destino e orientam a criação artística e espiritual do Ate Ilê Ofun.

 

1. Introdução

Os itans aqui apresentados são tratados como linguagem e estrutura. A narrativa estabelece o lugar de cada elemento e, a partir dela, a obra assume eixo, respiro e hierarquia. O resultado é uma leitura clara: movimento e passagem sob Exu; forma e serenidade sob Oxalá.

 

2. Itan I — Exu e o Poder das Encruzilhadas

Exu não possuía terras, rios ou ofício. Viveu errante até encontrar morada na casa de Oxalá. Por dezesseis anos permaneceu em silêncio atento, observando a modelagem da humanidade em barro — mãos, pés, olhos, boca, órgãos — tudo nascendo sob o gesto do criador.

Quando os visitantes se multiplicaram, Oxalá confiou a Exu o posto na encruzilhada. Ali, Exu recebia oferendas, organizava ebós e afastava os indesejáveis com o ogó. Fez da passagem sua morada, seu altar e sua profissão. Desde então, toda travessia exige seu reconhecimento: ninguém caminha sem antes saudá-lo.

“Exu guarda o acesso e ordena o movimento. A passagem é rito, não atalho.”
 

3. Itan II — Obatalá e a Criação do Homem

Quando o mundo era ainda imaginação de Olodumare, coube a Obatalá criar a Terra. Ignorando as prescrições de Orunmilá, embriagou-se com o vinho de palma e adormeceu à sombra da palmeira sagrada. Seu irmão Odudua, cumprindo os sacrifícios, desceu pelas correntes, lançou o montículo de terra sobre as águas e, com a galinha de cinco dedos, fez o chão se expandir: nasceu Ifé.

Ao despertar, Obatalá encontrou a missão perdida. Proibido para sempre do vinho, recebeu ainda assim a dádiva maior: modelar em barro os seres vivos. Sob o sopro divino, surgiram o homem e a mulher. A criação se completou.

“Oxalá organiza a forma e devolve à matéria o seu destino: ser morada de axé.”
 

4. Síntese e Fundamento

As duas narrativas consagram o diálogo entre Exu, princípio do movimento, e Oxalá, princípio da forma. Um abre os caminhos; o outro os preenche com vida. Um guarda a passagem; o outro modela o destino.

  • Opaxorô e Ogó sustentados por cabaças, símbolos do ventre e do segredo da vida.
  • Adês de Exu e de Oxalufã, opostos e complementares, unidos em mesa de madeira nobre e colunas de ferro, erguendo um altar contemporâneo.
  • Conchas selecionadas, búzios e cobre como fundamentos vivos, com brilho contido e leitura de eixo.

No Ate Ilê Ofun, a arte não busca efeito fácil. Assume a responsabilidade de ser fundamento tornado forma: cabaça (vida, origem), cobre (passagem, vigilância), búzio (destino, escuta), sisal cru (terra, neutralidade), madeira nobre (permanência, ancestralidade).